mercredi 26 novembre 2014

A MÚSICA NO CINEMA: POUCA, BASTANTE, INTENSA, NENHUMA ?

Qual é o ponto comum entre: Um Herói Muito Discreto; Syriana – A Indústria do Petróleo (com George Clooney); A Rainha; Quando Estou Amando (Quand j’étais chanteur – com Gérard Depardieu); O Curioso Caso de Benjamim Button; Crepúsculo (Twilight); Harry Potter e as Relíquias da Morte; O Discurso do Rei; A Árvore da Vida; My Way, O Mito Além da música (Cloclo); Ferrugem e Osso (De rouille et d’os); O Reino do Nascer da Lua (Moonrise Kingdom); O Grande Hotel Budapeste; Godzilla; etc? A música desses filmes foi escrita por um compositor francês: Alexandre Desplat.


Mas foi somente vendo um de seus filmes que o seu trabalho me fez refletir. Após ver diversas vezes O Escritor Fantasma de Roman Polanski, a trilha sonora de uma cena me chamou a atenção de modo particular: ela simplesmente me evoca os filmes de Alfred Hitchcock. Na verdade, é a música de Alexandre Desplat nesse filme, como um todo, que me faz lembrar do Mestre.


Alexandre Desplat: « (...) Muitos ainda  se confundem, achando que o compositor é um dos técnicos do filme, o que na verdade não é. O compositor é um dos autores do filme. Ele não é diferente do roteirista pelo fato de chegar depois de todo mundo e vir dar um toque final no cenário. (...) É a sonoridade que eu busco. O que vai ressoar e fazer com que vibrem ao mesmo tempo a imagem, o som do filme, os diálogos, os atores, a luz? »

Mas antes de dar continuidade ao que estamos falando: agora que sabemos qual o papel do compositor de uma trilha sonora de filme, o que seria uma boa trilha sonora?
Jean-Louis Aubert é um cantor bastante popular na França. Ex-líder do famoso grupo de rock francês: Téléphone. Ele compôs a trilha sonora do filme O Ciúme (La jalousie) a pedido do diretor Philippe Garrel.
« Jean-Louis Aubert: Ele (Philippe Garrel) me enviou uma bela carta manuscrita. É preciso dizer que Philippe não tem telefone celular nem computador... e essa carta me agradou: era encantadora. Dizia o seguinte: seu último álbum é o melhor que você produziu. Você é a pessoa que eu preciso para compor a trilha sonora do filme. Quer vê-lo? (...) Fui ver o filme: e adorei. Quando vi o filme, havia tanta emoção e silêncio que eu disse para mim mesmo: deve ser muito fácil, pois uma vez que eu sinta uma emoção, para mim não há mais trabalho a fazer, já está tudo feito, é só me deixar levar por essa emoção. A gente se encontrou na saída e ele me disse: o que seria ótimo se a gente alugasse uma sala de cinema, projetasse um filme de 35mm e você tocasse, lá na frente com alguns músicos. Então eu disse: Não é assim que eu trabalho, muitas coisas eu faço um pouco em casa. (...) Depois eu recebi uma carta que, em vez de me passar os códigos de tempo (time code), que são os números que a gente vê na parte inferior dos filmes quando eles ainda não estão terminados e onde se informa que de 4'07 a 6'08 deve entrar a música, dizia o seguinte: "quando o papai chega ao ponto de ônibus, ele pega a filha no colo, dá-lhe um beijo, depois eles caminham até a casa deles, ele abre a porta, sua mãe a coloca para deitar e, naquele momento, a música para de tocar."
Depois Philippe veio até a minha casa (...), para cada ponto onde ele queria uma música, eu tinha 3 a 4 ideias. Ele se pôs ao meu lado no piano e eu tocava para ele o que eu sentia. E a cada vez, ele achava perfeito, exceto que tinha um pequeno leitor de DVD com um fone de ouvido e ele me dizia: "só estou verificando se os atores estão falando dentro do tom da música."
- Christine Masson: Além disso, estranhamente, não foram momentos óbvios de música os escolhidos por Garrel. Pois há alguns momentos bem "secos" – o que quer dizer que Garrel confia em sua imagens – nos momentos em que não há música... É engraçada essa forma de escolher os momentos.
Jean-Louis Aubert: Eu gosto, na verdade, pois há momentos desejados de silêncio e eu acho que, incialmente, não era para ter nenhuma música ali (...). Não há nada que valoriza mais a trilha sonora de um filme que a presença de outros momentos de silêncio, o que quer dizer que ela é desejada, como uma criança, naquele local.
- Christine Masson: O que é uma boa trilha sonora de filme?
- Jean-Louis Aubert: Não sei... uma música que a gente esquece, mas que se escutamos novamente sem o filme, nos remete a ele. Essa seria a
música ideal.
Extrato da emissão de 30 de novembro de 2013 On aura tout vu no canal France Inter. 


Exemplo de compositor em trabalho no filme O Homem Que Eu Amo ("Un homme qui me plaît"), de Claude Lelouch, com Jean-Paul Belmondo e Annie Girardot 
Na verdade, eu acho que à vezes a música ocupa muito espaço nos filmes (ruins). Dá logo para saber, pelo toque dos violinos, que o belo moreno não vai tardar a beijar a linda loira. Infelizmente, não é somente nas comédias românticas que querem martelar na cabeça do espectador o sentido ou a importância da cena! Por mais que eu goste de filmes de vampiros, a música da cena final do filme Drácula com o Christopher Lee é tão exagerada que chega a ser cômica!  



O que eu gosto mesmo é da ausência de música, substituída por um som bem real que atua como uma pulsação, por exemplo. Como nesta cena antológica: a abertura do filme Era Uma Vez no Oeste, do diretor italiano Sergio Leone. O rangido lúgubre e o vento constante alertam o espectador que tudo vai acabar mal !


Sejamos menos radicais. Com alguns diretores, é desde do início, já nos créditos iniciais, que entramos na atmosfera do filme. É o que acontece no filme A Dança dos Vampiros, de Roman Polanski. Não somente os créditos iniciais são magníficos, mas as vozes também não deixam dúvida alguma sobre o caráter mórbido da situação que espera os personagens.


No entanto, é evidente que um pouco de música também é muito bem vinda! Nesta famosa sequência no início de Cidade em Alerta (Breaking News), de Johnnie To, a música tempera a excitação do espectador sentado em seu assento e ansioso para encher os olhos com este especialista em filmes de ação do cinema de Hong Kong! Ela acalma o ânimo antes do início das hostilidades.


Nesta cena de A Missão (The mission), também de Johnnie To, a ambiência sonora do lugar por si só já daria aos movimentos dos atores um ar quase cômico. A música reforça a evidente preparação dos homens, a organização e a hierarquia do grupo de gângsters cujo deslocamento no espaço parece seguir uma coreografia que não os permite deixar nada ao acaso.


A música também é uma assinatura. Todos os fãs de Lost são capazes de identificar, entre milhares de outros, os acordes típicos que dão ritmo às cenas mais tensas de diversos episódios da série.

 
O melhor para o final. A música "veste" o personagem. Ele fica escancarado, não precisa nem fazer nem falar mais nada: o espectador sabe definitivamente tudo sobre ele. Normalmente, um agente secreto deve ser discreto, para que possa atuar sem atrair a suspeita dos outros. No serviço secreto francês, ocorre o inverso. Nosso James Bond nacional tem uma percepção bastante pessoal da ideia de se fundir com a paisagem no filme Uma Aventura no Cairo (OSS 117: Le Caire nid d'espions), de Michel Hazanavicius! A prova disso é a música.

 
A gente se despede com um trecho de Dias Selvagens (Nos années sauvages) de Wong Kar-Waï: um clássico na forma de conselho para começar bem o dia!



 Luc (tradução: Eduardo)

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